Por décadas, o diagnóstico de obesidade foi pautado quase exclusivamente pelo Índice de Massa Corporal (IMC). Bastava dividir o peso pela altura ao quadrado e, se o resultado passasse de 30, estava decretada a obesidade. Mas o avanço da ciência e da medicina metabólica mostrou algo importante: o peso na balança nem sempre reflete a real condição de saúde de uma pessoa.
Hoje, diversos especialistas e instituições propõem um novo padrão para avaliar a obesidade, baseado não apenas no peso, mas em critérios como composição corporal, inflamação sistêmica, resistência à insulina e marcadores metabólicos.
Neste artigo, você entenderá o que muda com esse novo modelo e por que ele pode transformar a forma como tratamos e prevenimos doenças crônicas.
O IMC é uma fórmula simples e prática, mas não distingue gordura de músculo e não mostra onde a gordura está localizada no corpo — dois fatores fundamentais para a saúde.
Um exemplo: um atleta de alta performance pode ter IMC acima de 30 por conta da massa muscular, mas com composição corporal saudável e risco metabólico baixo. Por outro lado, uma pessoa magra pode ter acúmulo de gordura visceral (aquela que envolve órgãos) e estar metabolicamente doente, mesmo com IMC normal.
Estudo clássico:
Smith et al. (2012) mostraram que 29% das pessoas com IMC normal tinham, na verdade, excesso de gordura visceral e risco aumentado de doenças cardiovasculares (Archives of Internal Medicine).
A nova proposta diagnóstica considera múltiplos critérios para avaliar se há obesidade e risco à saúde. Alguns deles:
2. Marcadores metabólicos
3. Alterações funcionais e hormonais
4. Relação com a saúde mental e qualidade de vida
Em 2020, a Obesity Canada e a Canadian Association of Bariatric Physicians and Surgeons lançaram diretrizes propondo um novo olhar clínico sobre a obesidade:
“Obesidade deve ser diagnosticada com base na presença de excesso de gordura corporal que compromete a saúde, e não apenas em números na balança.”
(Obesity Canada Clinical Practice Guidelines, 2020)
Já a Endocrine Society, em publicação de 2023, reforçou a importância de incluir análise metabólica detalhada e avaliação funcional no diagnóstico de obesidade, sugerindo que o IMC deve ser ponto de partida, e não diagnóstico final.
O novo modelo reforça que obesidade não é apenas acúmulo de gordura, mas uma doença inflamatória crônica, de base neuroendócrina e multifatorial.
Pesquisas mostram que a obesidade envolve:
🔬 Fonte: Blüher M. Obesity: global epidemiology and pathogenesis. Nat Rev Endocrinol. 2019.
O impacto do novo padrão no diagnóstico e tratamento
Essa nova abordagem permite:
Além disso, o uso de ferramentas como bioimpedância, DEXA scan e análises laboratoriais funcionais torna o processo mais completo e individualizado.
Muda tudo.
O paciente não será mais classificado apenas como “obeso” ou “não obeso”. Ele será avaliado em múltiplas dimensões:
Com isso, o tratamento passa a ser mais humanizado, preciso e eficaz.
O novo padrão de obesidade traz um olhar mais abrangente e respeitoso sobre o corpo humano. Ele reconhece que obesidade é doença, mas que seu diagnóstico precisa ir além da balança.
Se você apresenta cansaço excessivo, constipação, dificuldade para emagrecer, barriga estufada ou resistência à insulina — mesmo com peso aparentemente “normal” — vale a pena buscar avaliação com um profissional que compreenda essa nova abordagem.
O futuro do tratamento da obesidade é individualizado, baseado em ciência e focado na saúde real, e não apenas em números.