Nos últimos anos, o avanço das terapias farmacológicas para o tratamento da obesidade tem mudado o cenário da saúde pública global. E uma das maiores promessas da atualidade é o Mounjaro, nome comercial da molécula tirzepatida, aprovada recentemente no Brasil pela Anvisa para o tratamento de diabetes tipo 2 e, posteriormente, para controle de peso corporal.
Mas, afinal, o que é o Mounjaro? Como ele age no organismo? E o que dizem os estudos científicos sobre sua eficácia na perda de peso? Neste artigo, você vai entender tudo isso com base nas mais recentes evidências clínicas.
O Mounjaro é um medicamento injetável de uso semanal, desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly. Sua molécula ativa, a tirzepatida, é um agonista duplo dos receptores GIP e GLP-1 — hormônios intestinais envolvidos na regulação do apetite, da secreção de insulina e do metabolismo da glicose.
Diferentemente de medicamentos mais antigos que atuam apenas no receptor de GLP-1 (como a semaglutida, do Ozempic e Wegovy), a tirzepatida estimula também o receptor de GIP, potencializando seus efeitos metabólicos e de supressão do apetite.
A combinação da ação dupla no GLP-1 e GIP oferece benefícios importantes:
Redução do apetite e maior saciedade
Diminuição do esvaziamento gástrico, promovendo sensação de estômago cheio por mais tempo
Melhora da sensibilidade à insulina e controle glicêmico
Redução da inflamação metabólica associada à obesidade
Esses efeitos fazem com que o corpo utilize melhor a energia e que o indivíduo consuma menos calorias de forma natural, favorecendo a perda de peso.
Um dos estudos mais expressivos foi publicado no New England Journal of Medicine com o título “Tirzepatide Once Weekly for the Treatment of Obesity”.
População estudada: 2.539 adultos com obesidade ou sobrepeso (IMC ≥ 27) sem diabetes
Intervenção: Doses de 5 mg, 10 mg e 15 mg de tirzepatida 1x/semana vs. placebo
Resultados após 72 semanas:
Perda média de peso com tirzepatida 15 mg: 20,9%
Perda média de peso com placebo: 3,1%
Mais de 50% dos pacientes perderam pelo menos 20% do peso corporal
🔗 Referência: Jastreboff et al., NEJM, 2022
Esse estudo avaliou a importância da manutenção da tirzepatida após o emagrecimento inicial:
Fase 1: Todos os participantes usaram tirzepatida por 36 semanas.
Fase 2: Metade manteve o uso, e metade passou para placebo.
Resultados:
Quem continuou com a tirzepatida manteve ou até ampliou a perda de peso.
Quem parou o medicamento, recuperou parte significativa do peso.
🔗 Referência: Rubino et al., JAMA, 2023
Uma revisão recente analisou diversos ensaios clínicos com a tirzepatida:
Resultados principais:
Redução média do IMC
Redução de até 25% no peso corporal total
Melhora em marcadores inflamatórios, glicêmicos e lipídicos
🔗 Referência: Zhang et al., 2024 – Frontiers in Public Health
O estudo SURMOUNT-5, publicado em 2025 no New England Journal of Medicine, foi um ensaio clínico de fase 3B que comparou diretamente a eficácia e segurança da tirzepatida com a semaglutida em adultos com obesidade ou sobrepeso, sem diabetes, mas com pelo menos uma comorbidade associada, como hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono (AOS) ou doença cardiovascular.
População estudada: 751 participantes com IMC ≥ 30 ou ≥ 27 com comorbidades
Intervenção: Tirzepatida (10 mg ou 15 mg) vs. Semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg), administradas semanalmente por 72 semanas
Resultados:
Perda de peso média:
Tirzepatida: 20,2%
Semaglutida: 13,7%
Redução da circunferência abdominal:
Tirzepatida: 18,4 cm
Semaglutida: 13,0 cm
Proporção de pacientes que perderam ≥25% do peso corporal:
Tirzepatida: 32%
Semaglutida: 16%
Ambos os medicamentos apresentaram efeitos colaterais gastrointestinais, geralmente leves a moderados, ocorrendo principalmente durante a fase de escalonamento da dose. A taxa de descontinuação devido a efeitos adversos foi de 6% para a tirzepatida e 8% para a semaglutida .
Apesar dos resultados impressionantes, o Mounjaro não está isento de efeitos adversos, especialmente gastrointestinais:
Náuseas
Vômitos
Diarreia ou constipação
Azia
Cansaço
Além disso, ele não deve ser utilizado sem acompanhamento médico, principalmente por pessoas com histórico de pancreatite, distúrbios gastrointestinais severos ou histórico familiar de câncer medular de tireoide.
Não. O medicamento deve ser visto como uma ferramenta terapêutica, e não como solução isolada.
A mudança no estilo de vida continua sendo essencial: alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, boa qualidade do sono e saúde emocional são pilares fundamentais para resultados sustentáveis.
O Mounjaro (tirzepatida) representa uma revolução no tratamento da obesidade e doenças metabólicas associadas, trazendo taxas de perda de peso semelhantes às da cirurgia bariátrica, mas com uma abordagem medicamentosa.
O estudo SURMOUNT-5 reforça sua superioridade em relação à semaglutida em termos de eficácia na perda de peso e redução da circunferência abdominal em pacientes com comorbidades relacionadas à obesidade.
No entanto, sua indicação deve ser feita com responsabilidade e orientação médica, considerando a individualidade de cada paciente e seus objetivos de saúde.
Se usado de forma consciente, aliado a mudanças no estilo de vida, o Mounjaro pode ser uma ferramenta poderosa para transformar vidas.